Um achado importante
Descoberta Arqueológica Reforça Tradição Clínica Milenar da Medicina Chinesa: Agulhas de Acupuntura de Aço com mais de 2.000 anos são encontradas na China.
Um achado arqueológico recente trouxe nova luz à antiguidade e sofisticação técnica da Medicina Chinesa. Arqueólogos localizaram no famoso túmulo do Marquês de Haihun, em Nanchang, província de Jiangxi, as mais antigas agulhas de acupuntura de aço conhecidas até o momento na China. A descoberta, divulgada por pesquisadores do Instituto Provincial de Relíquias Culturais e Arqueologia, oferece uma evidência material concreta da prática clínica da acupuntura há mais de dois milênios.
Segundo Yang Jun, chefe da equipe de escavação, pelo menos cinco objetos com morfologia típica de agulhas estavam alojados dentro de um tubo de jade, acondicionado cuidadosamente em uma caixa laqueada com detalhes folheados a ouro um indicativo não apenas do valor atribuído a esses instrumentos, mas também do conhecimento técnico já existente à época quanto à preservação e esterilização.
As agulhas medem entre 0,3 e 0,5 milímetros de diâmetro, compatíveis com os padrões modernos de agulhas de acupuntura, e foram provavelmente envoltas em tecido antes de serem inseridas no tubo de jade prática que sugere um cuidado rigoroso com higiene e conservação.

Uma Medicina com bases clínicas e técnicas refinadas
A descoberta está sendo considerada uma evidência significativa tanto para a história da medicina na China quanto para o desenvolvimento da metalurgia do aço na Dinastia Han Ocidental (206 a.C. – 24 d.C.). Gu Man, especialista da Academia Chinesa de Ciências Médicas Tradicionais, afirma que esse achado representa um marco importante na arqueologia médica do país.
Para nós, profissionais e estudantes da Medicina Chinesa, trata-se de um testemunho concreto da prática clínica sistematizada que já se consolidava há mais de 2.000 anos, com instrumentos sofisticados e inserida no contexto da corte e da elite letrada, como evidencia o túmulo do Marquês.
Essa não é uma descoberta de “curiosidade histórica” ou “tradição folclórica”: é uma confirmação física de que a acupuntura era uma prática médica estabelecida, respeitada e tecnicamente avançada já na virada do primeiro milênio antes da Era Comum. O uso do jade elemento com forte simbologia de pureza e nobreza e da caixa laqueada sugere não apenas valor ritual, mas principalmente cuidado com a prática clínica e a preservação dos instrumentos terapêuticos.

Implicações para a clínica moderna
A racionalidade Médica Chinesa é fundamentada em pilares teóricos sólidos e coerentes: Yin-Yang, os Cinco Movimentos, os Zang Fu, os canais e colaterais, os métodos de diferenciação de síndromes, entre outros. O que essa descoberta arqueológica nos mostra é que essa medicina já operava de forma estruturada e refinada há milhares de anos, não como um conjunto de crenças, mas como uma prática sistematizada.
Hoje, é comum que a acupuntura seja reduzida a um conjunto de protocolos padronizados ou descontextualizada como prática “alternativa” ou “holística”. Mas é justamente por meio de achados como este que podemos reafirmar a profundidade, a continuidade e a sofisticação dessa medicina.
Estudar a Medicina Chinesa é estudar uma racionalidade médica milenar, que foi transmitida não apenas por meio de textos clássicos como o Huang Di Nei Jing e o Nan Jing, mas também por meio de evidências materiais que sustentam sua prática ao longo dos séculos.

Para refletir
Como profissionais e aprendizes da Medicina Chinesa, devemos acolher esse tipo de descoberta como parte viva da nossa história. Ao conhecermos os fundamentos e respeitarmos a origem desta medicina, conseguimos não apenas aplicá-la com maior profundidade, mas também contribuir para seu reconhecimento como ciência médica legítima tanto dentro quanto fora da China.
Referência:
https://www.chinadaily.com.cn/a/202507/01/WS6863ca48a31000e9a573998c.html
1 comentário.
Fantástico. Continue assim, nos trazendo conhecimento
Com qualidade e profundidade.