As 4 patologias do Qi

As 4 patologias do Qi: deficiência, estagnação, rebelião e afundamento
Pode parecer óbvio, mas entender as 4 possíveis patologias do Qi é fundamental para a compreensão de qualquer condição patológica na Medicina Chinesa. São elas: deficiência, afundamento, estagnação e rebelião. Confira.
As 4 patologias do Qi

O Qi e suas funções

 

Antes de falar sobre síndromes específicas como deficiência do Qi do Pulmão, Estagnação do Qi do Fígado ou afundamento do Qi do Baço é preciso entender o que exatamente significa cada uma das 4 possíveis patologias do Qi.

 

O termo “Qi” não tem uma tradução direta, mas pode ser compreendido como a força motriz que mantém o corpo funcionando.

 

Isso quer dizer que ele tem papel fundamental na fisiologia: está associado as funções, atividades e movimentos.

 

Nesse sentido, qualquer tipo de falha associada ao Qi causa patologias que se manifestam através de diferentes sinais e sintomas.

 

E para entender e identificar esses sinais e sintomas é preciso conhecer profundamente cada uma das patologias do Qi.

 

Deficiência de Qi

 

O termo “deficiência de Qi” indica que não há Qi suficiente para a realização das funções e atividades.

 

Isso acontece devido uma falha no processo de formação do Qi que causa diminuição na sua quantidade e qualidade.

 

Os sinais e sintomas gerais são:

–  Dispneia branda (o Qi do Pulmão não é suficiente para recepcionar o ar e descender);

– Voz fraca (o Qi Torácico não é suficiente para dar para dar potência na voz);

– Sudorese espontânea (o Qi do Pulmão é incapaz de controlar a abertura e fechamento dos poros);

– Perda de apetite e dificuldade de digestão (o Qi do Estômago e o Qi Baço são incapazes de extrair a essência dos alimentos e transformá-la em Gu Qi (Qi dos alimentos);

– Fezes amolecidas (o Qi do Estômago, Qi do Baço, Qi dos intestinos é incapaz de transformar, separar e extrair os fluidos das fezes);

– Fadiga (todas as funções fisiológicas, especialmente do Rim – aquecimento e função – ficam prejudicadas).

 

O pulso é vazio e língua é pálida.

 

O princípio de tratamento é fortalecer o Qi, fortalecer o centro (Baço e Estômago) e corrigir todas as falhas do processo de formação do Qi, desde a alimentação até a formação do Yuan Qi (Qi Original).

 

Afundamento do Qi

 

No afundamento do Qi há uma falha na movimentação do Qi para cima.

 

O Qi tem quatro movimentos possíveis: para cima, para baixo, para dentro e para fora.

 

Considerando a gravidade, o movimento “mais difícil” é subir, ou seja, quando o Qi está enfraquecido, ele apresenta dificuldade nesse movimento.

 

Nesse sentido, é possível entender que o afundamento do Qi é uma progressão da deficiência de Qi.

 

Os sinais e sintomas são:

– Sensação de peso para baixo (devido ao movimento exagerado do Qi para baixo);

– Fadiga (Baço e Estômago perdem sua harmonia – Qi do Baço sobe e Qi do Estômago desce);

– Inquietude e depressão (quando o Qi não é capaz de subir, o cérebro não recebe o suprimento de Qi e Sangue necessários para suas funções e a comunicação com o Coração fica prejudicada);

–  Prolapso dos órgãos – Estômago, Útero, Intestinos, Ânus, Vagina ou Bexiga – (é ação da lei da gravidade).

 

O pulso é vazio e língua é pálida.

 

O princípio de tratamento é fortalecer o Qi e elevar o Qi.

 

Estagnação do Qi

 

Numa condição fisiológica, o Qi precisa ter o seu fluxo livre e suave em todas as direções.

 

Quando a circulação do Qi fica prejudicada, ele se acumula numa região específica e dá origem à estagnação, ou seja, acúmulo de Qi numa região específica.

 

O mais comum é a estagnação do Qi ocorra no hipocôndrio, tórax, epigástrio, hipogástrio, abdômen e garganta.

 

Os sinais e sintomas são:

– Sensação de distensão (acúmulo de Qi a região);

– Dor em distensão (onde não há livre fluxo há dor);

– Depressão (é a doença do livre fluxo – o movimento da mente fica prejudicado);

– Irritabilidade, melancolia, variação de humor e suspiro frequente (movimento da mente fica prejudicado).

 

Na estagnação do Qi o pulso é em corda e língua é normal ou avermelhada nas laterais.

 

O princípio de tratamento é resolver a estagnação e restaurar o livre fluxo do Qi.

 

Rebelião do Qi

 

Em cada órgão e cada canal o Qi se movimenta de forma específica.

 

Por exemplo, o Qi do Baço sobe, o Qi do Estômago desce, o Qi do Pulmão desce e assim por diante.

 

A rebelião do Qi ocorre quando o movimento do Qi está invertido ou indo em sentido contrário.

 

Se o Qi do Estômago subir ao invés de descer, o paciente apresentará eructação, soluço, náusea e vômito.

 

Se o Qi do Baço descer ao invés de subir, o paciente apresentará diarreia e prolapso.

 

Se o Qi do Fígado subir exageradamente, os sinais e sintomas serão cefaleia, tontura e irritabilidade.

 

Se o movimento for horizontal e atingir o Estômago o paciente apresentará náusea, eructação e vômito e se atingir o Baço, diarreia. Se ele for exageradamente para baixo, o paciente terá fezes ressecadas.

 

Quando o Qi do Pulmão sobe ao invés de descer, o paciente apresenta tosse e asma. Se o Qi do Rim subir o paciente terá asma.

 

No caso do Coração, se o Qi subir o paciente vai apresentar inquietude mental e insônia.

 

O princípio de tratamento é corrigir o movimento do Qi, ou seja, promover a descensão do Qi, a elevação do Qi, etc.

 

O direcionamento da agulha é fundamental, ou seja, a ponta da agulha deve direcionar o movimento correto do Qi em pontos locais.

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Para finalizar

 

A compreensão das patologias do Qi permite o entendimento aprofundado de cada sinal e sintoma dentro de qualquer mecanismo patológico.

 

Assim, ao invés de decorar uma lista de sinais e sintomas para cada síndrome é possível entender o porquê de cada um deles.

 

Referências

 

– DEADMAN, Peter; AL-KHAFAJi, Mazin; BAKER, Kevin. Manual de Acupuntura. São Paulo: Roca, 2020.

– MACIOCIA, Giovanni. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Roca, 2019.

– WANG, Bing. Princípios de medicina interna do imperador amarelo (tradução). 1ª Edição. São Paulo: Editora Ícone, 2013.

 

Quem escreveu

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Ana Regina Tanganeli

É professora e coordenadora do Aprendiz de Medicina Chinesa. É profissional da Medicina Chinesa com formação em Acupuntura, Fitoterapia, Dietoterapia, Tuiná e Medicina Chinesa Clássica e especializada em Pediatria. Tem mais de 20 anos de experiência em docência e é especialista em epistemologia, didática e tecnologias de ensino.

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