O Clássico Interno do Imperador Amarelo descreve que após a alimentação, cada um dos sabores é encaminhado para seu órgão de preferência:

  • o sabor azedo é enviado primeiramente ao Fígado;
  • o sabor amargo é enviado primeiramente para o Coração;
  • o sabor doce é enviado primeiramente para o Baço;
  • o sabor picante é enviado primeiramente para o Pulmão;
  • o sabor salgado é enviado primeiramente para o Rim.

Essas relações são baseadas na teoria dos 5 movimentos e suas correspondências. Por esse motivo, sabores descritos pelo paciente (como preferenciais ou como sensação de gosto na boca) podem ser considerados para o diagnóstico e também a ingestão correta dos alimentos pode (e deve) ser utilizada como parte do tratamento.

Além do excesso da ingestão de um sabor específico afetar o próprio órgão, ele também afeta os demais conforme o ciclo de geração e o ciclo de dominância.

No capítulo 3 do Su Wen (Sobre a Energia Vital Humana Entrando em Contato com a Natureza) tem-se que:

  • O excesso de alimentos azedos causa estagnação do Qi do Fígado, que sua vez pode prejudicar o Baço (madeira invadindo terra);
  • O excesso de alimentos salgados pode lesar os ossos, os músculos (terra não controla água) e também causar deficiência de Coração (excesso de controle da água sobre o fogo);
  • O excesso de alimentos doces (e aqui deve-se destacar que doce não significa açúcar) prejudica as funções do Baço em transportar e transformar e causa a formação de mucosidade. Também prejudica as funções do Rim (excesso de controle da terra sobre a água);
  • O excesso de alimentos amargos lesa o Coração. Com o Coração lesado, a tendência é que o Baço/Estômago também fiquem prejudicados (excesso de controle do fogo sobre a terra);
  • O excesso de alimentos picantes causa excesso no Pulmão, que por sua vez prejudica o Fígado (excesso de controle do metal sobre a madeira).

O capítulo finaliza dizendo que “se os cinco sabores forem adaptados a uma condição harmoniosa sem ingestão excessiva, o corpo todo irá receber ampla fonte de nutrição e todos os tecidos do corpo (pele, músculos, tendões, ossos e vasos sanguíneos) irão se conservar em condição forte e normal”.

Isso quer dizer que numa condição habitual, deve-se manter os cinco sabores em todas as refeições e que numa situação patológica deve-se ajustar a ingestão de cada um deles com o objetivo de harmonizar os ciclos de geração e dominância dos cinco movimentos.

A figura abaixo ilustra as relações entre os órgãos e os sabores.

 

Referências

– MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da medicina chinesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2019.
– WANG, Bing. Princípios de medicina interna do imperador amarelo (tradução). 1ª Edição. São Paulo: Editora Ícone, 2013.