Essa não é apenas uma dúvida sua! Todo profissional da Medicina Chinesa, independentemente da especialidade, sempre fica em dúvida sobre quando tonificar e quando dispersar, especialmente na acupuntura.
Mas antes de falarmos sobre isso, é preciso entender os conceitos de excesso e deficiência na Medicina Chinesa.
Numa condição de excesso há presença de Xie Qi (Qi patogênico) ou estagnação/estase, ou seja, existe algo que NÃO deveria estar presente.
Numa condição de deficiência há falta de Qi, Sangue, fluidos corporais ou Essência, ou seja, existe algo que DEVERIA ESTAR mas não está.
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Para entender melhor, o tratamento com acupuntura deve seguir 3 passos:
- Agulhamento – localizar e agulhar o ponto;
- De Qi (chegada do Qi) – manipular para “chamar o Qi”;
- Manipulação (tonificação ou dispersão) – manipular para movimentar o Qi de acordo com a estratégia de tratamento.
Agulhar um ponto e não fazer mais nada é como ficar parado na frente da casa de alguém. Dar De Qi e não manipular mais é como tocar a campainha e sair correndo. E a manipulação pós De Qi significa ficar e conversar com o dono da casa.
O que exatamente significa tonificar e dispersar na acupuntura?
A tonificação MOBILIZA o Qi para a região ou para a promover a função (de órgão ou víscera).
Já a dispersão MOVIMENTA o Qi para longe da região ou promove a eliminação.
Na prática, o mesmo ponto de acupuntura pode ter função de tonificar ou dispersar. O que vai determinar a ação é justamente a tonificação ou a dispersão.
Por exemplo:
VC12 (zhongwan):
- Tonifica o Baço (tonificação);
- Resolve estagnação do Qi (dispersão).
F3 (taichong):
- Restaurar livre fluxo (tonificação);
- Acalmar o Yang do Fígado (dispersão).
VB34 (yanglingquan):
- Fortalecer Fígado / VB (tonificação);
- Relaxar tendões (dispersão).
É importante pensar em qual função do ponto precisa ser ativada (baseado no princípio de tratamento) e pensar em tonificar para mobilizar o Qi ou promover função e em dispersar para movimentar o Qi ou eliminar.
E quem fala que tonificação e dispersão não existe?
Esses profissionais utilizam argumentos parciais fundamentados em aspectos específicos das teorias ocidentais sobre o funcionamento da acupuntura para justificar essa ideia.
E quando existe excesso e deficiência simultaneamente?
Nesses casos, de forma geral deve-se primeiro dispersar (eliminar excessos) e depois tonificar (corrigir as deficiências).
Mas isso é tema para o próximo artigo…
Referências principais
– WANG, Bing. Princípios de medicina interna do imperador amarelo (tradução). 1ª Edição. São Paulo: Editora Ícone, 2013.
– FOCKS, Cláudia; März, Ulrich. Guia prático de acupuntura. 2ª edição. São Paulo: Manole, 2008.
– MACIOCIA, Giovanni. Diagnóstico na Medicina Chinesa: um guia geral. 1ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2006.
– MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da medicina chinesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2019.
– ROSS. JEREMY. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. Rio de Janeiro: Roca, 2019.
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