Essa não é apenas uma dúvida sua! Todo profissional da Medicina Chinesa, independentemente da especialidade, sempre fica em dúvida sobre quando tonificar e quando dispersar, especialmente na acupuntura.

A tonificação MOBILIZA o Qi para a região ou para a promover a função (de órgão ou víscera).

Já a dispersão MOVIMENTA o Qi para longe da região ou promove a eliminação.

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Mas o que fazer quando existe excesso e deficiência simultaneamente?

Para compreender essa questão é preciso fazer uma analogia:

Imagina que você tem uma caixa que é destinada para guardar livros, mas nesse momento ela está cheia de brinquedos.

O que é preciso fazer?

Primeiro é preciso retirar os brinquedos da caixa e depois colocar os livros, afinal de contas, ela deve armazenar livros e não brinquedos!

Isso quer dizer que antes de tonificar (colocar o que é saudável) é preciso dispersar (movimentar ou eliminar o que é prejudicial).

Exemplos:
– Numa condição onde há presença de estase de Sangue (excesso) é preciso dissolver a estase (dispersar) e depois nutrir o Sangue (tonificar).
– Numa condição onde há presença de calor (excesso) e falta de fluidos corporais (deficiência) é preciso primeiro limpar calor (dispersar) e depois gerar fluidos (tonificar).
– Numa condição onde há presença de mucosidade obstruindo os orifícios da mente (excesso) e deficiência do Yang do Baço (deficiência), é preciso primeiro eliminar umidade (dispersar) e depois fortalecer o Baço (tonificar).

O fato de dispersar primeiro e tonificar depois implica em realizar o tratamento numa sequência lógica e estratégica.

O agulhamento do pé até a cabeça ou da cabeça aos pés de forma aleatória vai contra esse raciocínio. O uso de “pontos bons para” também.

Até porque a acupuntura movimenta o Qi. Então a pergunta é: O que você quer fazer com o Qi?

É possível fazer isso no mesmo atendimento?

Sim, é possível porém nem sempre é indicado. Vai depender da avaliação do pulso do paciente.

Mas isso é tema para o próximo artigo…

 

Referências principais
– WANG, Bing. Princípios de medicina interna do imperador amarelo (tradução). 1ª Edição. São Paulo: Editora Ícone, 2013.
– FOCKS, Cláudia; März, Ulrich. Guia prático de acupuntura. 2ª edição. São Paulo: Manole, 2008.
– MACIOCIA, Giovanni. Diagnóstico na Medicina Chinesa: um guia geral. 1ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2006.
– MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da medicina chinesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2019.
– ROSS. JEREMY. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. Rio de Janeiro: Roca, 2019.