Acupuntura versus topiramato para o tratamento preventivo da enxaqueca crônica

A enxaqueca, a segunda maior causa de incapacidade laboral em todo o mundo, afeta cerca de 2% da população.

Dos indivíduos que sofrem com a condição 8% desenvolvem enxaqueca crônica, que é diagnosticada quando há dor por pelo menos 15 dias por mês durante pelo menos 3 meses.

Se a enxaqueca episódica já é incapacitante, a dor diária ou quase diária compromete a qualidade de vida, causa maior incapacidade na realização das atividades diárias,  aumenta a taxa de comorbidades, aumenta o uso de medicamentos e gera maiores custos tanto para o paciente quanto para os cofres públicos.

Nesse sentido, o tratamento preventivo é aconselhado e normalmente é realizado através de medicamentos como o topiramato.

A grande questão é que este medicamentos, e outros similares, apresentam eficácia abaixo do ideal e causam muitos efeitos adversos.

É por isso que dos pacientes que iniciam o tratamento preventivo, 22,7% o interrompem devido à ineficácia e 59,1% por causa dos efeitos adversos.

Considerando esse contexto, um estudo foi realizado na Universidade de Pequim com o objetivo de avaliar a resposta clínica da acupuntura versus o uso de topiramato em pacientes com enxaqueca crônica.

O estudo duplo cego / simples cego foi realizado com 60 participantes com idades entre 18 e 65 anos com histórico de enxaqueca crônica por pelo menos um ano. Eles foram divididos de forma aleatória em 2 grupos iguais (n = 30).

O grupo acupuntura recebeu acupuntura real e placebo do topiramato (cápsulas de mesmo formato, cor, cheiro e sabor porém sem princípio ativo) e o grupo medicamento recebeu topiramato real e acupuntura falsa.

O estudo teve duração de 12 semanas, totalizando 36 sessões de acupuntura (3 vezes por semana) e acompanhamento por mais 12 semanas.

O grupo acupuntura foi atendido por profissional experiente e o De Qi foi obrigatório em todos os pontos.

Todos os pacientes foram agulhados bilateralmente em:

– VG20 (baihui);
– VG24 (shenting);
– VB13 (benshen);
– VB8 (shuaigu);
– VB20 (fengchi).

Outros pontos secundários foram utilizados de acordo com a síndrome do paciente e o canais envolvidos na enxaqueca. São eles:
– TA5 (waiguan);
– VB34 (yanglingquan);
– IG4 (hegu);
– E44 (neiting);
– B60 (kunlun);
– ID3 (houxi);
– F3 (taichong);
– VB40 (qiuxu).

Já os participantes do grupo medicamento, receberam acupuntura falsa em pontos bilaterais sem indicação clínica para a condição, de forma superficial e sem De Qi. Foram eles:
– IG15 (jianyu);
– PC3 (quze);
– VB35 (yangjiao);
– F7 (xiguan);
– E37 (shangjuxu).

Esse grupo recebeu o topiramato, com dose inicial de 25mg/dia em uma única vez na hora de dormir durante a primeira semana. Ao longo dos dias, o paciente foi orientado a aumentar a dose gradativamente até 100mg/dia ou até parecerem efeitos adversos.

Na segunda semana de tratamento, a dose foi distribuída em duas vezes ao dia, com dose mínima de 50mg/dia.

Todos os participantes receberam um “diário da enxaqueca”, onde deveriam registrar a data, horário de início e término da dor, características, intensidade e a intervenção medicamentosa utilizada (princípio ativo e dosagem).

A avaliação foi realizada através da variação média de dias sem enxaqueca, considerando 1 dia de dor com a presença de dor por pelo menos 4 horas. Nesses dias, os pacientes foram orientados a fazer uso de medicamento analgésico com princípio ativo e dosagem conforme prescrito pelo médico responsável.

Ainda, avaliou-se total de horas com dor, quantidade de intervenções medicamentosas e aplicou-se questionários referentes à incapacidade da enxaqueca (MIDAS), qualidade de vida na enxaqueca (MSQOL), perfil psicológico e inventário de ansiedade nas semanas 13 e 24 do estudo.

Os participantes também preencheram uma escala de expectativa com a acupuntura antes do início do tratamento e no final das 12 semanas.

Os resultados estatísticos demonstram que o grupo acupuntura apresentou maior redução nos dias sem dor, horas com dor e quantidade de intervenções medicamentosas do que o grupo topiramato.

Nas semanas de 1 até 12 (duração do tratamento) houve uma diferença de 33,3% versus 6,7%, respectivamente no grupo acupuntura e topiramato, no que diz respeito a variação de dias com dor e nas semanas 13 até 24 de 36,7% versus 10%.

Observando o gráfico, é possível concluir que a resposta é mais evidente nas primeiras 4 semanas e depois  permanece em queda até a 12º semana. Após o final do tratamento, a resposta da acupuntura se mantém  enquanto que do topiramato sofre alterações que sugerem novo aumento na variação de dias com dor.

Nesse sentido, pode-se dizer que a acupuntura possibilita um efeito preventivo precoce e sustentado.

Ainda, os questionários demonstram também que o grupo acupuntura apresentou melhores resultados com relação a qualidade de vida, incapacidade e ansiedade.

Considerando os efeitos adversos, eles ocorreram em 10% dos participantes do grupo acupuntura (hematoma e dormência na região do agulhamento) e 26,7% do grupo topiramato (parestesia, fadiga, náusea, tontura, dificuldade de concentração e dispepsia).

Para finalizar, os pesquisadores concluem que a acupuntura é mais segura e eficaz do que o topiramato no tratamento da enxaqueca crônica e surge como uma alternativa valiosa para pacientes com enxaqueca crônica, particularmente aqueles com contraindicações a medicamentos, intolerância, preferências por medicamentos e populações específicas, como gestantes e adolescentes.

Referência
Liu L, Chen Q, Zhao L, Lyu T, Nie L, Miao Q, Liu Y, Zheng L, Fu F, Luo Y, Zeng C, Zhang C, Peng P, Zhang Y, Li B. Acupuncture plus topiramate placebo versus topiramate plus sham acupuncture for the preventive treatment of chronic migraine: A single-blind, double-dummy, randomized controlled trial. Cephalalgia. 2024 Jun;44(6):3331024241261080. doi: 10.1177/03331024241261080. PMID: 38860524.

 

Quem escreveu: Patrícia Luna
Acupunturista, Terapeuta Floral e Holística! Atende na região do Ipiranga! (@ctholistica)

Um comentário

  1. Nelis Maria Pallaoro 16 de maio de 2025 at 08:47 - Reply

    Parabéns Patrícia! Excelente artigo! Demonstra claramente como a acupuntura e eficiente, eficaz e com resultados duradouros na enxaqueca episódica e na maioria das patologias observadas em nossa prática clínica diária. Além disso, nos possibilita um tratamento personalizado e direcionado de acordo com as queixas de cada paciente, não restringindo a uma única medicação ou tratamento que possam, inclusive, causar efeitos adversos de acordo com as comorbidades diagnosticadas.

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