O TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) é uma condição que afeta cerca de 8% das crianças no mundo e que segue acompanhando o indivíduo por toda sua vida.

Ele é considerado um transtorno neurobiológico de causas genéticas, ambientais e biológicas, caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.

O diagnóstico normalmente é realizado por uma equipe multidisciplinar (médico, psicólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, etc) com base nos sinais e sintomas apresentados.

Dentre eles, os mais clássicos são:

  • dificuldade de prestar atenção;
  • parece não escutar quando fala-se diretamente;
  • não consegue seguir instruções;
  • tem dificuldade em se organizar;
  • distrai-se facilmente;
  • corre de um lado para o outro ou sobe em objetos e móveis;
  • não consegue ficar parado ou em silêncio por muito tempo;
  • tem dificuldade em expressar-se;
  • apresenta comportamento agressivo.

O tratamento normalmente envolve o uso contínuo de medicações e terapia. Porém, o tratamento com Medicina Chinesa contribui (e muito) para o tratamento e melhora das condições gerais do indivíduo.

Segundo a Medicina Chinesa, o TDAH está diretamente relacionado a uma disfunção da mente (shen), normalmente causada por calor interno, mucosidade ou deficiência.

Calor

A criança é Yang puro. O crescimento acelerado (principalmente nos primeiros anos de vida) associado com a imaturidade dos órgãos e vísceras faz com que a criança apresente excesso de calor. Até certo ponto essa condição é fisiológica e o próprio organismo se resolve sozinho.

Porém, quando há presença de toxicidade fetal, fator patogênico residual ou estagnação de alimentos por tempo prolongado, esse excesso de calor se torna patológico.

Quando o calor é excessivo, o Yang não consegue interiorizar e consome o Yin. Neste caso, a criança não dorme bem e não descansa (é o que popularmente chamamos de “ligado no 220V”).

O calor também agita o Qi, fazendo com que a criança apresente comportamento hiperativo e impulsivo.

Ainda, o calor agita a mente, alterando as emoções e causando desordens de atenção e concentração.

Finalmente, o calor excessivo pode gerar vento interno, o que explica quadros de convulsão e epilepsia.

Neste caso, o princípio de tratamento deve ser limpar calor e nutrir o Yin.

Mucosidade obstruindo os orifícios da mente

Na Criança, o Baço e o Estômago são normalmente insuficientes, ou seja, há deficiência.

Com a deficiência, as funções de transporte e transformação ficam prejudicadas, o que causa uma tendência natural à estagnação de alimentos.

Como resultado do alimento acumulado no aquecedor médio, tem-se a mucosidade.

Por sua vez, a mucosidade obstrui a circulação do Qi e obstrui os orifícios da mente, fazendo com que a criança apresente dificuldades em expressar-se (fala) e compreender e lidar com o meio.

Essa obstrução também prejudica a função do Fígado em manter o livre fluxo de Qi, ou seja, tem-se estagnação do Qi do Fígado.

Neste caso, ocorrem sintomas como alterações emocionais extremas, comportamento violento, desordens de linguagem, olhos opacos e desconexos e reações impulsivas.

Neste caso, o princípio de tratamento deve ser a eliminação da mucosidade, a desobstrução dos orifícios da mente e o fortalecimento do centro (Baço e Estômago).

Ainda, a dietoterapia tem função essencial aqui: a alimentação deve ter qualidade, quantidade e frequência adequadas para que o Baço e Estômago possam cumprir suas funções adequadamente.

Deficiência de Qi, Sangue e Essência

Quando há deficiência de Qi, as funções do corpo não ocorrem adequadamente e a mente não funciona bem.

Quando há deficiência de Sangue, a mente não é ancorada e fica “flutuando”.

Quando há deficiência de Essência, a mente não tem raiz.

Nesses três casos, a criança pode apresentar sintomas de TDAH, como falta de concentração, falta de memória, agitação mental, entre outros.

Neste caso, o principio de tratamento deve ser fortalecer, nutrir e tonificar Qi, Sangue e Essência. Dietoterapia e fitoterapia também são importantes nestes casos.

 

Em linhas gerais, os principais pontos para o tratamento do TDAH na Medicina Chinesa são:

  • C7 (shenmen);
  • C5 (tongli);
  • B15 (xinshu);
  • B44 (shentang);
  • VG11 (shendao);
  • yintang (Ex-HN-3);
  • VG24 (shenting);
  • VG19 (houding);
  • VG21 (qianding);
  • sishencong (Ex-HN-1);
  • VG20 (baihui);
  • VC12 (zhongwan);
  • VC6 (qihai);
  • VC4 (guanyuan).

É importante destacar que o uso de agulhas deve ser realizado com responsabilidade, primeiro para não causar traumas e segundo pela dificuldade que esses pacientes tem em ficarem parados. Pode-se optar pelo uso de sementes, fitoterapia externa ou acupressão nos pontos.

Falando em tuiná, as principais manipulações que podem ser utilizadas são:

  • tianmen – Porta do Céu (manipulação de yintang até VG24);
  • xinmen – Porta da Fontanela (na depressão em frente ao VG20 – fontanela);
  • kangong – A água (na palma da mão, entre o centro e a base do pulso);
  • xiao tian xin – Pequeno Coração Celestial (na região central da base do pulso).

A figura abaixo ilustra as três principais síndromes envolvidas com o TDAH.

Referências

– FLAWS, Bob. A handbook of TCM Pediatrics. Second Edition. New York: Blue Poppy Press, 2006.

– JIMING, Cao; JUNQI, Cao; XINMING, Su. Essentials of Tradicional Chinese Pediatrics. Beijing: Foreign Languages Press, 1990.

– ROSSI, Elisa. Hyperactive Children and Chinese Medicine. ICCM, 2011.