O Qi nutritivo circula através dos canais principais numa sequência específica e em um ciclo que dura 24 horas.

Teoricamente considera-se que a circulação tem início no canal do Pulmão, segue pelo canal do Intestino Grosso, daí vai para o Baço e assim por diante (a figura abaixo trás a sequência completa do fluxo de Qi pelos canais).

Além da sequência, a Medicina Chinesa também indica os horários correspondentes ao fluxo de Qi em cada um dos canais: no canal do Pulmão das 3 às 5 horas; no canal do Intestino Grosso das 5 às 7 horas e assim por diante (todas as correspondências estão descritas na imagem abaixo).

Baseando-se no fluxo de Qi pelos canais e seus horários correspondentes, criou-se o conceito de “Relógio Biológico” na Medicina Chinesa, um figura circular que relaciona os órgãos e os horários.

Embora muitos estudantes e profissionais acreditem que o Relógio Biológico está associado aos órgãos (e o próprio formato nos leva a essa interpretação), o Relógio Biológico diz respeito aos canais.

SIM! Aos canais. Foi através do raciocínio sobre o fluxo de Qi pelos canais principais que chegamos até esse conceito!

Na prática, os horários do relógio biológico indicam os momentos onde o fluxo de Qi é maior em canal, ou seja, sabe-se que das 3 às 5 horas, o fluxo de Qi do canal do Pulmão é maior do que nos demais canais, mas isso não quer dizer que o canal do Pulmão é o único a receber Qi naquele momento!

Essa informação deixa claro que o fluxo de Qi pelos canais é contínuo e que em determinado período é maior em um canal específico.

Nessa linha de raciocínio, é possível compreender que enquanto um canal está com o fluxo máximo de Qi, outro canal está com o fluxo mínimo de Qi.

E é a partir desse entendimento é que podemos utilizar o relógio biológico para diagnosticar e compreender situações fisiológicas e patológicas do corpo, bem como indicar o melhor horário para realizar acupuntura ou tomar a fitoterapia.

Olha só:

3 – 5 horas: o canal do Pulmão recebe o maior fluxo de Qi e o canal da Bexiga o menor;
5 – 7 horas: o canal do Intestino Grosso recebe o maior fluxo de Qi e o canal  do Rim o menor;
7 – 9 horas: o canal do Estômago recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Pericárdio o menor;
9 – 11 horas: o canal do Baço recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Triplo Aquecedor o menor;
11 – 13 horas: o canal do Coração recebe o maior fluxo de Qi e o canal da Vesícula Biliar o menor;
13 – 15 horas: o canal do Intestino Delgado recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Fígado o menor;
15 – 17 horas: o canal da Bexiga recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Pulmão o menor;
17 – 19 horas: o canal do Rim recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Intestino Grosso o menor;
19 – 21 horas: o canal do Pericárdio recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Estômago o menor;
21 – 23 horas: o canal do Triplo Aquecedor recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Baço o menor;
23 – 1 hora: o canal da Vesícula Biliar recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Coração o menor;
1 – 3 horas: o canal do Fígado recebe o maior fluxo de Qi e o canal do Intestino Delgado o menor.

Através dessas relações é possível entender sinais e sintomas que aparecem e desaparecem em determinados horários ou até mesmo as relações entre Yin e Yang que ocorrem ao longo do dia.

Mas isso é tema para um outro artigo :-)

Por enquanto, fica a imagem do que é chamado de “Relógio Biológico” na Medicina Chinesa e sua relação com o fluxo de Qi pelos canais.

Referências

– DEADMAN, Peter; AL-KHAFAJi, Mazin; BAKER, Kevin. Manual de Acupuntura. São Paulo: Roca, 2020.
– FOCKS, Cláudia; März, Ulrich. Guia prático de acupuntura. 2ª edição. São Paulo: Manole, 2008.
– MACIOCIA, Giovanni. Canais de Acupuntura. Uso clínico dos canais secundários e dos oito vasos extraordinários. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Roca, 2008.