No capítulo 1 do Ling Shu (Eixo Espiritual) tem-se que “os cinco órgãos Zang possuem as seis vísceras Fu e as seis vísceras dão origem aos doze pontos fonte (yuan). Os doze pontos fonte saem das quatro juntas e as quatro juntas indicam os cinco órgãos”.
Apesar de já fazer uma referência indireta, o termo quatro portões (quatro passagens ou quatro portas – Si Guan, 四關) começou a ser utilizado depois.
No Grande Compêndio de Acupuntura e Moxabustão, publicado durante a dinastia Ming (1368–1644), tem-se que “os quatro portões são a combinação de F3 (taichong) e IG4 (hegu)”.
No Clássico das Dificuldades tem-se que “a doença dos cinco órgãos e seis vísceras pode ser tratado pelos pontos yuan (fonte). Os pontos yuan (fonte) são o local de coleta de Qi e Sangue dos cinco órgãos e seis vísceras e o local onde o Qi dos órgãos atravessa ou sai”.
Isso quer dizer que as patologias dos órgãos e vísceras são diretamente refletidas nos pontos yuan (fonte) e é por isso que a combinação de F3 (taichong) e IG4 (hegu) é tão eficaz.
Fato é que os “quatro portões” é uma técnica utilizada por médicos de todos os tempos para o tratamento de orgãos do sentido, sistema digestivo, sistema nervoso, sistema circulatório, sistema locomotor, em questões ginecológicas, pediátricas, entre outros.
Ainda, é uma técnica descrita por várias obras antigas sobre tratamentos.
Vamos entender um pouco sobre esses dois pontos e como eles funcionam em combinação!
Individualmente, IG4 (hegu) é ponto yuan (fonte) do canal do Intestino Grosso e além de resgatar as funções originais da víscera, tem função de clarear a cabeça e os olhos, limpar calor, resolver o exterior, harmonizar o estômago e intestino, acalmar o Coração e a mente, retificar o Qi e desbloquear os canais.
Lembrando que o canal do Intestino Grosso pertence ao yangming, o canal onde há mais Qi e Sangue.
Já o F3 (taichong) é ponto yuan (fonte) do canal do Fígado e além de resgatar as funções originais do órgão, tem função de extinguir o vento, acalmar a mente, regular os canais, retificar o Sangue, regular o Aquecedor Médio, limpar calor e fogo do Fígado, retificar o Qi e remover umidade.
Destaque para o fato de o Fígado ser o órgão responsável por manter o livre fluxo de Qi por todo o corpo.
Combinando esses dois pontos une-se o canal com mais Qi e Sangue e o órgão responsável por manter o livre fluxo de Qi, ou seja, são dois aspectos que dependem um do outro, trabalham juntos e se complementam.
É uma combinação de Qi e Sangue, Yin e Yang.
É por isso que a combinação desses dois pontos é tão especial e tem função de:
- Coordenar a subida e descida (ascensão e descensão);
- Regular o movimento do Qi;
- Harmonizar Qi e Sangue;
- Potencializar o fluxo de Qi e Sangue;
- Desbloquear os canais;
- Desbloquear os orifícios;
- Acalmar a mente;
- Aliviar dores;
- Remover fatores patogênicos.
Na prática é uma combinação útil para diversas patologias, tais como:
- Depressão;
- Insônia;
- Hipertensão;
- Insônia;
- Movimento intestinal irregular;
- Histeria e questões emocionais.
O efeito do uso dos “quatro portões” nessas patologias foi apresentado em diversos estudos científicos já realizados.
Alguns autores defendem que a técnica deve ser utilizada antes de outros pontos: identificando a necessidade do uso dos quatro portões, deve-se agulhá-lo (e estimular), checar o pulso (que deve estar mais próximo do normal do que antes) e então seguir o agulhamento.
A recomendação original é que os pontos sejam utilizados bilateralmente, ou seja, deve-se agulhar o IG4 (hegu) em ambas as mãos e o F3 (taichong) em ambos os pés.
Porém, diversos autores indicam que o uso unilateral – IG4 (hegu) no lado esquerdo e F3 (taichong) no lado direito é suficiente para estabelecer o fluxo suave de Qi e Sangue por todo o corpo.
Para finalizar, é preciso avaliar se o uso dos quatro portões é viável de acordo com a condição do paciente. Em caso de deficiência, o ideal é primeiro resolver essa condição através da tonificação dos órgãos envolvidos ou do centro (Baço – Estômago).
A figura abaixo resume as funções dos quatro portões.
Referências
– DONG, SHI. “My Understanding of Siguan Points”, 2009. Disponível em https://inf.news/en/health/ed8d2b6a4acb1827a13c450cc69143a4.html
– FILHO, Reginaldo. Os quatro portões. Disponível em https://www.youtube.com/s9dbKywacTE;
– MACIOCIA, Giovanni. Os fundamentos da medicina chinesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Roca, 2019.
– SONG, J. (2015). Acupuncture at “four gates” points for insomnia in 53 free combat athletes. World Journal of Acupuncture – Moxibustion, 25(3), 67–70. doi:10.1016/s1003-5257(15)30068-4
MUITO BOM!!!
Para mim, os quatro portões são formados pelos pontos F3, IG4, E36 e IG11.
Adenilton, as referências utilizadas para o artigo estão ao final dele. Os que você cita são apelidados de “quatro portões menores” mas não existem referências clássicas sobre eles, assim como não há para o que chamamos de “triângulo de Buda”. A função dessa combinação pode ser analisada associando a função do IG + F3 associados ao E36 e IG 10/IG11. Vamos colocar na lista para fazer um artigo sobre eles e te aviso aqui.
Quero agradecer, ao desempenho dos professores do Aprendiz, pois estão me ajudando muito no caminhos do. Entendimento.