Esse artigo é baseado numa publicação científica Brasileira,  escrita pela Patricia Cardoso Clemente (@profpatriciacardoso) publicada na Revista Brasileira de Ciências Médicas e da Saúde.

A ITU (Infecção do trato urinário inferior) é uma doença comum, que atinge na sua grande maioria mulheres (com exceção nos bebês de até um ano de idade, que atinge mais meninos) e é responsável por aproximadamente 15% das prescrições de antibióticos prescritas em ambulatórios.

Os principais sintomas da ITU, também conhecida como infecção urinária ou cistite são: dor no baixo abdômen, urgência para urinar e dor e ardência ao urinar.

A grande questão associada à infecção urinária é a sua recorrência. Estima-se que pelo menos 24% das pacientes apresentarão novas reinfecções no prazo de um ano.

Segundo a Medicina Ocidental, ela é causada pela introdução de bactérias do reservatório anal e vaginal no ducto urinário (uretra)

Já segundo a Medicina Chinesa, a infecção urinária é classificada como “disfunção urinária dolorosa” e está diretamente relacionada à presença de umidade calor no aquecedor inferior.

As principais síndromes ^que causam a infecção urinária são:

  • Umidade Calor de origem externa;
  • Deficiência de Qi ou Yang do Baço;
  • Deficiência de Qi ou Yang do Rim;
  • Estagnação do Qi do Fígado e/ou fogo do Fígado.

Ainda, a patologia pode ser causada pela descida do fogo do Coração (através do canal do Intestino Delgado).

A autora da publicação, Patrícia, realizou uma revisão sistematizada de artigos sobre infecção urinária e infecção urinária recorrente em acupuntura e analisou 3 ensaios clínicos.

No primeiro estudo (Aune, 1998) foram selecionadas 67 mulheres adultas que foram divididas em 3 grupos distintos: acupuntura, acupuntura placebo e controle (não receberam nenhum tipo de tratamento).

A seleção dos pontos de acupuntura baseou-se apenas no fato da patologia estar associada à presença de calor-umidade no aquecedor inferior, sem determinar sua causa.

Os pontos utilizados foram:

  • VC3 (zhongji);
  • B28 (pangguangshu);
  • B23 (shenshu);
  • R3 (taixi);
  • BA6 (sanyinjiao);
  • BA9 (yinlingquan);
  • F2 (xingjian);
  • F3 (taichong).

As pacientes foram submetidas à duas sessões semanais durante 4 semanas e foram acompanhadas durante 6 meses.

Os resultados da pesquisa indicaram que 85% das que receberam acupuntura, 58% das que receberam acupuntura placebo e 36% das do grupo de controle ficaram livres de reinfecções, ou seja, a acupuntura foi efetiva.

O segundo estudo (Alraek, 2002) avaliou a eficácia da acupuntura em 100 mulheres (67 receberam acupuntura, 27 não realizaram nenhum tratamento e 6 não atenderam os critérios da pesquisa e considerou também a condição relacionada à infecção urinária, sem observar sua causa primária.

Foram utilizados os seguintes pontos:

  • VC3 (zhongji);
  • VC4 (guanyuan);
  • B23 (shenshu);
  • B28 (pangguangshu);
  • R3 (taixi);
  • BA9 (yinlingquan);
  • E36 (zusanli);
  • F3 (taichong).

As pacientes foram tratadas duas vezes por semana durante quatro semanas e acompanhadas por seis meses. Das que receberam acupuntura 73% não apresentaram reinfecção, contra 52% das que não receberam nenhum tratamento.

Já o terceiro estudo considerou as causas da infecção urinária segundo a Medicina Chinesa na pesquisa.

No total, 94 mulheres foram divididas em três grupos conforme a síndrome identificada e em um grupo de controle da seguinte maneira:

  • 27 mulheres no grupo de controle (não receberam nenhum tratamento);
  • 22 mulheres com deficiência de Qi ou Yang do Baço como causa da patologia, com uso dos pontos:
    • BA6 (sanyinjiao);
    • VC3 (zhongji);
    • B28 (pangguangshu);
    • E36 (zusanli).
  • 22 mulheres com deficiência de Qi ou Yang do Rim, com uso dos pontos:
    • B23 (shenshu);
    • R3 (taixi);
    • VC3 (zhongji).
  • 18 mulheres com estagnação do Qi do Fígado, com uso dos pontos:
    • F3 (taichong);
    • VC3 (zhongji);
    • B28 (pangguangshu);
    • BA9 (yinlingquan);
    • BA6 (sanyinjiao).

As pacientes foram submetidas ao tratamento duas vezes por semana durante quatro semanas e acompanhadas durante um ano. Nenhuma delas apresentou recorrência na infecção.

A umidade calor causada pela deficiência de Qi ou Yang do Baço pode ser compreendida da seguinte maneira: Quando há deficiência de Qi do Baço, ele falha na sua função de transporte e transformação, causando umidade; umidade retida por longos períodos gera calor; e a umidade calor obstrui a via das águas e causa a patologia.

Quando a causa é a deficiência do Qi ou Yang do Rim, o Qi do Rim falha em controlar o transporte e excreção dos fluidos, causando incontinência, enurese ou dificuldade em esvaziar a Bexiga; o acúmulo de fluidos gera umidade calor, causando a patologia.

No caso da estagnação do Qi do Fígado, tem-se que o Fígado é responsável pelo livre fluxo de Qi no Aquecedor Inferior (de acordo com o trajeto do canal). Quando há estagnação (e consequentemente fogo) há acúmulo de fluidos na região da Bexiga, causando a patologia.

Ainda, a infecção urinária pode ser causada por fogo do Coração que desce através do canal do Intestino Delgado. Neste caso, além dos sintomas clássicos há presença de sangue na urina. Uma combinação interessante de pontos para esse caso é:

  • ID2 (qiangu);
  • C8 (shaofu);
  • VC3 (zhongji);
  • BA6 (sanyinjiao).

A figura abaixo resume as principais síndromes associadas à infecção urinária e os principais pontos utilizados.

 

Referência

– Clemente PC. Acupuntura no tratamento da infecção urinária recorrente: uma revisão sistemática. .2016;4(4):1-6. Disponível em http://www.rbcms.com.br/detalhes/35/acupuntura-no-tratamento-da-infeccao-urinaria-recorrente–uma-revisao-sistematica